
Fim de ano. Ela olha para trás e fica satisfeita com o que vê. Saldo positivo. Primeira viagem internacional foi bem sucedida. A participação dela no Congresso foi confirmada em novembro. A viagem seria em junho do próximo ano. Economizou horrores! Deixou de ir a festas, bares, não adquiriu roupas nem supérfluos durante todo o período. Viajou na classe econômica, ficou em hostels e flats e andou de metrô na Europa. Assim, deu tudo certo! A apresentação que fez no congresso também foi um sucesso! A história da primeira faculdade da cidade onde ela mora foi muito bem recebida e elogiada pelos participantes e professores da universidade lusitana.
Ela também comprou um carro mais novo neste ano. E nem imaginava que conseguiria trocar o atual carro – com mais de 150 mil quilômetros rodados, ainda em 2016. Deu tudo certo. O carro “velho” entrou como pagamento de uma condenação e a indenização pela rescisão na faculdade que ela trabalha, há 15 anos, chegou para assegurar a compra de outro carro. Tudo acontecendo ao mesmo tempo. Parece coisa do universo, tudo deu certo!
O carro “novo” é da marca que ela queria também. “Não estraga!” Foi o que disseram as pessoas que ela procurou para obter opiniões sobre qual carro deveria comprar. O engraçado é que ela tinha feito uma listinha de desejos e o carro estava planejado para o final do outro ano. A meta foi antecipada. Coisa rara!
A irmã dela também formou esse ano. Foi uma festa linda! Sabe aquelas festas de formatura em que você paga por uma bela maquiagem, fica meses procurando um vestido à altura do evento, compra um sapato que combina, faz aquele baita investimento? Tudo para compartilhar da emoção e do sonho de outra pessoa? Pois foi assim que ela encarou o evento da irmã. Ela poderia ter ido com qualquer sapato. Poderia ter feito, ela mesma, a própria maquiagem, mas não estaria “dando a mesma importância” se fizesse. Elas foram juntas para o salão. Esperaram juntas por horas, olharam-se no espelho e se admiraram, juntas! Ela foi totalmente cúmplice da felicidade da irmã.
Este ano, ela também fez seu primeiro trabalho voluntário. Foi em outra cidade. Ela dedicou não apenas tempo, mas recursos. Viajou várias vezes para contribuir com os meninos da universidade federal. Juntamente com outros vinte voluntários, assumiu a responsabilidade de organizar e realizar regionalmente um evento de reconhecimento mundial. Foi uma injeção de ânimo, sabe? Garotos de 22 a 26 anos, e ela com 42. Tomou conhecimento sobre novos aplicativos, participou de uma experiência de conhecimento interativa, alto astral e altamente relevante. Não foi apenas a organizadora de um evento, ela compartilhou experiências e ajudou a definir a personalidade de um acontecimento importante para a região.
Além dessas experiências bacanas, ela viajou para várias cidades do interior de Minas e São Paulo, foi madrinha de casamento, fez lindos passeios de bike, publicou artigo científico, iniciou participação no grupo de pesquisa da faculdade (uma das suas paixões), curtiu as Olimpíadas (pela TV), concebeu e planejou projetos de marca, aplicou o essencial e resgatou acréscimos de autoestima.
Ufa! Que ano! Ela nunca imaginava que seria assim. Ela iniciou o ano, cheia de planos e projetos como todos nós, cheia de expectativas e vontades, sem saber se todos aconteceriam da forma que ela gostaria que acontecessem. Ela imaginou um ano cheio de eventos felizes, sem contratempos. Acreditou nas mensagens de Próspero Ano Novo e entrou de cabeça no Novo Ano. Tudo deu certo como ela gostaria? Em partes. Muitas coisas boas aconteceram, porém, muitas desventuras também. Não só com ela, mas com amigos e parentes próximos.
Ela encarou tudo como nunca havia encarado. Com mais maturidade, mais amor, mais dedicação e reflexão.
Mais do menos, mais vontade de acertar e disposição para contrariar a si mesma. Resolveu seguir o caminho mais difícil. O caminho da reforma individual. Ela resolveu enfrentar o desconhecido que morava dentro dela mesma. Enfim, ela resolveu crescer!
Muito bem. Tudo muito bonito e inspirador, mas de quem é essa história? Porque o nome dela ainda não foi revelado? Será que ela optou por esconder a personalidade? Ou essa história não é verdadeira?
Quem me conhece, sabe que essa história é sobre mim. Eu resolvi conta-la como se fosse os acontecimentos de uma personagem para demonstrar o comportamento que eu percebo em várias pessoas quando se sentem diferentes das demais.
O meu ano foi bom, mas eu poderia encarnar o espírito de negatividade que inundou a internet sobre 2016 e escrever um artigo sobre as mazelas que todos nós enfrentamos em todos os anos. Eu podia dizer que fui condenada em um processo civil de acidente de transito às vésperas da minha viagem para Portugal. Podia dizer que encontrei caroços no meu seio esquerdo em um exame de rotina. Podia dizer também que perdi metade do meu salário em um programa de redução de despesas. Podia mencionar também o fato de ser picada pelo Aedes, contraído dengue e ter ficado de cama por uma semana. Dizer que não consegui um único contrato de consultoria por seis meses. Que não passei em dois processos seletivos para ingressar no Doutorado (e fiquei muito triste com isso).
Evidenciando tudo isso eu iria engrossar o comportamento padrão do brasileiro acostumado a exaltar os infortúnios, fortalecer a auto pena e receber como consolo, o apoio de pessoas boas e caridosas que oferecem suas condolências.
Eu resolvi “virar a mesa”. Mudar a percepção que eu tenho sobre os acontecimentos que me impactavam e como eu reagia a eles.
Não foi fácil. A verdade é que muitas vezes não ganhamos o suficiente para pagar as contas, somos extorquidos por impostos e perdemos entes queridos em filas de precários serviços de saúde e em acidentes causados por estradas mal conservadas. Isso nos deixa triste, com a sensação que os fatos ruins se sobrepuseram aos fatos bons. É aí que devemos tomar cuidado com o comportamento padrão característico da nossa cultura.
A nossa baixa autoestima nos deixa vulneráveis e comumente nos direciona ao caminho seguro da “referência”. Tendemos a buscar modelos de sucesso para pelo menos “não nos sentir tão diferentes” em nossa própria percepção, então, enfiamos a nossa ideia disforme em uma fôrma adquirida com a permissão da nossa ansiedade e esperamos pelo sucesso prometido no título do artigo ou na “chamada” da notícia.
Quando fazemos isso, perdemos a nossa condição de seres únicos e inigualáveis e perdemos a coragem de assumir que não somos ou pensamos como a maioria. Às vezes nem temos coragem de contar ou assumir que nosso ano foi bom, por exemplo, para não soar algo “arrogante” perto de tantos que declararam que seu ano foi ruim. Esse tipo de atitude enfraquece a nossa personalidade porque, agindo assim, desprezamos a nossa identidade e distorcemos a imagem que as outras pessoas percebem da gente.
Pronto. Nos tornamos alvos fáceis. Não acredita? Basta observar quantos empreendedores colocam uma ideia genial em prática e com o passar do tempo perdem totalmente o formato inicial do negócio por insegurança e ansiedade. E quantas empresas estão perdendo espaço porque estão presas aos grilhões do sucesso econômico que alcançaram a despeito do propósito inicial que as fizeram surgir, e que ficou à beira do caminho. É “preciso acabar logo com isso”.
A garantia do nosso sucesso está na nossa forma única e exclusiva de atender às necessidades das pessoas que escolhemos servir. Simples assim? Simples assim.
Aí reside algo muito importante: a diferença entre escolher trabalhar para alcançar sucesso (financeiro ou status) ou trabalhar para servir pessoas. Pode parecer irrelevante, mas a percepção que temos do nosso talento pode mudar totalmente os resultados que vamos obter com ele. Mudar essa percepção é a chave para prosperar em qualquer tempo. Isso requer de nós mudança de comportamento. Mudar é preciso e possível.
Quando resolvemos mudar nosso padrão mental, mudamos a nossa identidade, a forma como nos comportamos em relação aos acontecimentos da vida, com isso, mudamos a forma como as pessoas nos enxergam. É através do nosso comportamento que marcamos a forma como as pessoas nos percebem.
O que é “um pouquinho” mais complicado é comunicar o nosso propósito profissional (que hoje não se separa mais do pessoal) de forma relevante, melhorar a nossa imagem e influenciar pessoas. A verdade é que somos péssimos comunicadores. Conheço vários empreendedores com boas ideias, muita energia, grandes valores, propósito legítimo, porém, comercialmente apagados. Acredite:
É possível conquistar o mundo com estratégia, clareza e frequência de boa comunicação.
Muitas pessoas passam uma imagem indesejada em seu ciclo de relacionamento, tem dificuldades para alcançar o reconhecimento profissional ou um companheiro verdadeiro e carinhoso por dificuldade de se expressar. Conhecer e analisar o ambiente, estabelecer objetivos e planejar, é um exercício de fortalecimento de imagem que pode nos trazer grandes resultados. É possível para qualquer um de nós. A receita é ser fiel às suas crenças, transformar seu propósito em valor e comunicar com eficiência.
Os novos tempos pedem coragem e transformação. Na economia do compartilhamento, não haverá ganhadores ou perdedores, haverá apenas o suficiente para cada um ser feliz. E ser feliz é o que todos estão à procura, não é mesmo? Ou você é diferente?